quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Audiência Pública na Câmara de Vereadores de Seropédica - 8-12-2010

A Câmara de Vereadores da Lixolândia promoveu, no dia 8 de Dezembro, Audiência Pública para discutir o Aterro Sanitário. Foram chamados para participar: a Prefeitura; a empresa Ciclus/Hastec, proprietária do empreendimento; a Reitoria da UFRRJ e professores envolvidos com pesquisas relativas a implantação do Aterro; o Conselho da Cidade; a Promotoria de Justiça; e o CREA.
O que foi apresentado durante a audiência não deixa dúvidas sobre quão estúpida é a decisão tomada pela prefeitura de Seropédica ao importar o problema sanitário da cidade do Rio de Janeiro. Isto pôde ser vista de várias maneiras, mas a mais forte foi um vídeo apresentado por professores da UFRuralRJ que visitaram o aterro de Adrianópolis, em Nova Iguaçu, de propriedade da empresa Ciclus/Hastec.
O vídeo mostra a degradação promovida pelo Aterro na região do seu entorno, dando ênfase a poluição da água, do solo e do ar, a invasão de moscas, aos ruídos provocados pelo transito continuo de caminhões e pela destruição dos já precários índices de qualidade de vida das pessoas ali residentes. O transito contínuo de caminhões promove o aumento de ruídos, a liberação de poeira e deixa rastros de chorume por toda a via. Quando chove, esta água poluída corre em direção ao solo e fontes de águas próximas, contaminando-os. Estudos feitos em laboratórios da UFRRJ comprovam a contaminação de material retirado da região do Aterro.
Em entrevistas com moradores foi relatada a perturbação provocada por moscas que atormentam a vida das pessoas e as expõem a doenças. Também foi relatado que a empresa não implementou nenhuma das compensações prometidas por ocasião da liberação da obra. A região que antes não tinha muito, ficou pior. Para constar, trata-se simplesmente de um Aterro Sanitário, sem qualquer projeto para produção de energia, o que pode vir acontecer aqui na Lixolândia. A estupidez toma outros contornos quando se realiza que o Aterro de Seropédica será 8 vezes maior do que aquele de Nova Iguaçu. Multiplicaremos por 8 os problemas vistos no vídeo. Precisamos disso?
Vale registrar, a Empresa Hastec não se fez presente. Mas esteve presente a maioria dos vereadores, o vice-prefeito, o secretário de meio-ambiente e o Reitor da UFRRJ. Evidentemente, fica uma pergunta: depois do que foi visto no filme, e ouvido dos outros palestrantes (sairá em outros posts), o que farão essas notáveis figuras públicas para impedir que Seropédica vire a lixeira do Rio de Janeiro?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A falta de informação e sua relação com o ambíguo, o escorregadio e o imoral.

Embora seja sempre recebida com desconfiança e medo, mudança é algo que faz parte do imaginário e do discurso das pessoas. É muito comum ver pessoas querendo e defendendo mudanças. Talvez seja uma resposta natural aos estímulos dados por tanta transformação tecnológica, tanto acesso a informação e a apelos comerciais. Mudar virou moda. Logo, veste-se essa grife. Para uns é quase uma ideologia. Logo, nada pode ser mesmo como foi anteriomente, ainda que tenha sido algo vitorioso, edificado em valores e atitudes moralmente defensáveis e fruto da reunião e aplicação de inteligência, bom senso e responsabilidade com fins a produção do bem comum. 
Entretanto, como realizar mudanças que sejam efetivas quando não se dispõe de informações precisas, recursos apropriados e quando não se tem visão acurada da realidade que se quer mudar? Em outras palavras: o que não pode ser medido, não pode ser mudado. A mudança estruturada, aquela que representa a aplicacao de inteligência e recursos apropriados, dá-se via planejamento, materializa-se via projetos, estes que geralmente devem ser fruto de discussões, reflexões e consenso. Estuda-se a realidade; avalia-se a mesma, bem como aos riscos e impacto de se mudá-la; toma-se a decisão. Quando não nos estruturamos para a mudança, para fazê-la acontecer, ela acaba acontecendo aos caprichos do tempo, situação esta que abre brechas para muita coisa, mas principalmente para a aparição de oportunistas, de ações pontuais, estas orientadas sempre para ganhos menores e individualizados.
Aborda-se este tema do para dar conta de uma situação bem evidente na realidade presente da Lixolândia: a falta de informação e de fontes fidedignas. Observa-se grandes transformações na Lixolândia, mas não sem tem disponíveis informações e fontes de informações que abordem tais transformações. As coisas mudam por aqui, mas a sociedade em geral não tem como se inteirar ou apropriar-se do que está acontecendo. Foi assim que, por exemplo, instalou-se o aterro sanitário, que começaram as obras do arco rodoviário que ainda não sabemos se haverá alça ou não para quem é da lixolândia e que foi posto no km 53 um assentamento de casas sem que se saiba se houve um estudo abordando os impactos da sua instalação. Mais: O que se sabe sobre o EIA-RIMA do Aterro Sanitário?; O que se sabe das ações empreendidas pelos que são contra a instalação deste aterro?; O que tem sido feito com relação aos aspectos jurídicos e administrativos contra a instalação do Aterro?. Não se sabe de nada, fica-se as escuras, ao prazer da boataria.
Na Lixolândia imperam os boatos. Sempre eles!  Não se tem jornais abordando problemas da cidade que não sejam ligados a políticos. Não se tem rádios. Os sites das Câmara e da Prefeitura não são fáceis de serem encontrados ou não existem. Muito pouco se sabe sobre as mudanças que acontecem por aqui, e que, na sua grande maioria, não resultam da aplicacao de inteligência e de recursos apropriados, via planejamento, materializando-se em projetos. Muda-se, mexe-se drásticamente na vida das pessoas, sem que se estimule discussões, reflexões, estudos e consenso.
É nesta paisagem árida de desinformação que a realidade vai sendo construída na Lixolândia. É nesta aridez que o ambíguo, o escorregadio e o imoral proliferam. O Diário da Lixolândia tem sinalizado para a necessidade de uma manifestação mais consistente e menos ambígua do novo governo com relação ao tema Aterro. Dias atrás fez-se o post sobre a reunião não realizada pelo prefeito com pessoas ilustres da cidade, que opôem-se ao Aterro. Soube-se que houve outra reunião, esta na casa de um dos membros da Associação Comercial, onde ele, o prefeito, explicou-se. Soube-se que houve no dia 30 de novembro, reunião entre membros da Procuradoria da Prefeitura e de advogados contratados por membros da Associação Comercial para tratar do tema Aterro. Soube-se é a expressão maior da materialização do boato. E isto é muito chato, ruim para quem quer produzir conteúdo, participar da construção saudável e democrática de novas realidades ou que terá sua vida influenciada por aqueles que decidem sobre as mudanças. Perseguição ao governo? Claro que não. Tudo o que se espera é que ele dê certo, e que a base do seu sucesso seja a consolidação de um modo de agir que seja diferente daquele feito pelos governos anteriores.
Enquanto nada é feito para dar clareza e confiabilidade aos eventos associados a mudança da realidade da Lixolândia, observa-se como a população lida com tais eventos. A discrença, ceticismo, narcismo e arrogância são atributos comuns nos comportamentos das pessoas que tomam decisão ou que serão afetadas por elas. Fala-se, por exemplo, que a prefeitura não pode simplesmente dizer não ao governo estadual e federal, dos riscos associados. Riscos para quem? Que riscos são esses? Podemos estudá-los em conjunto, democraticamente? Fala-se dos repasses ou contrapartidas relativas a transformação de Seropédica na lixeira da cidade do Rio de Janeiro. Onde estão as informações sobre esses repasses? Por fim, vamos simplesmente dizer sim a dinâmica imoral e obscura patrocinada pelo governo anterior só por que haverá compensações, repasses? Vamos dizer sim as práticas danosas que proliferam sob os efeitos da desinformação? Vamos aceitar nossa realidade ser transformada com base em boatos, estes que só beneficiam poucos, principalmente aos políticos escorregadios e oportunistas da Lixolândia?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Lutando para lutar: sina difícil de carregar

Quem está na luta contra a implantação do CTR na Lixolândia, não luta apenas contra a força econômica da empresa Hastec, a força de Sergio Cabral e Eduardo Paes e os interesses dos políticos de Seropédica que entregaram a cidade para os interesses das ratazanas anteriores. Luta-se também contra a ansiedade, ausência de recursos, desorganização, desinformação e passividade da população. Essa é a sina de Seropédica, pois o que acontece agora aconteceu quando da implantação do posto avançado do pedágio. O pior de tudo é que não houve grandes aprendizados. Comete-se os mesmos erros.
Acima de tudo, convém lembrar, é extremamente difícil atrair (e manter) Seropedicenses para movimentos que vão defender seus próprios interesses. Repetindo uma sina bem brasileira, vive-se na Lixolândia a espera de alguém que fará tudo para todos. Essa passividade fez com que ela deixasse na mão de políticos incompetentes e mal intencionados os anos tenros do novo município: há 14 anos se caminha para trás, pois passou-se de produtor de areia para receptor de lixo. Além disso, como na Lixolândia quem mais oferece “bico” é a Prefeitura, as pessoas ficam com medo de participar porque pode comprometer o “bico” do filho, do cunhado, do genro etc. Deu no que deu: Seropédica virou a Lixolândia.
Com relação ao CTR, o que se sabe sobre todos os pontos disponíveis para analisar o problema? Onde estão as informações sobre as ações jurídicas? Em que pés elas estão? Onde está a cronologia do problema, localizando-a no tempo e no espaço? A que lógica respondem os eventos relativos ao movimento contra a implantação do aterro sanitário? Aliás, qual é o nome do movimento?
Pouco se sabe sobre o próprio movimento, que nasceu sim com a participação de pessoas interessadas em política, mas que trás ineditamente a presença maciça da Associação Comercial e de profissionais da Embrapa e da UFRuralRJ. Em tempos de redes sociais, ainda não se tem um site, twitter, facebook e ferramentas similares. Quem quer ficar a par do que acontece depende de boato. Não se conta com muitos apoios econômicos, e não se organiza o suficiente para levantá-lo. Age-se sem responder a uma lógica, uma estratégia de ação que trabalhasse mais com os recursos que se tem do que com os sonhos que movem as pessoas. Sai-se a luta diária sem se saber a qual objetivo aquela ação está associada, que metas precisam ser atingidas. O coração passa a ditar as ações contra o tempo, figura que ganha o status de principal inimigo.
E na onda do boato segue o movimento. Por exemplo, o show que aconteceu sábado (13/11) em Seropédica, um grande fiasco, foi promovido por quem? Pelo movimento ou pela Prefeitura? Foi consenso entre os dois? Qual foi o ISS acordado pela Prefeitura anterior para cobrar o CTR? A Prefeitura tem poder para fiscalizar o CTR ou isso é exclusividade do INEA, órgão que aprovou um aterro sobre um aqüífero?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mulher no poder em Brasília. Mulheres no poder no CTR em Seropédica.

Tá na mídia: Dilma no poder em Brasília. Mulheres no poder no CTR em Seropédica. O que se pode esperar disso?
De Dilma espera-se um comando seguro e ético da nação, além do desenrolar das reformas fiscal e política. Espera-se que o governo tenha, enfim, políticas públicas estruturantes para encarar os problemas na saúde, educação, geração de renda para retirar pessoas da miséria e meio-ambiente, entre outras expectativas. Com relação a questão ambiental, o Diário da Lixolândia espera que Dilma leve a frente o “legado de Marina Silva”, que baseou sua campanha a presidência nesta questão. Espera-se, entre outras coisas, que ela seja capaz de liderar em nível nacional um projeto de lei que impeça a importação de lixo de outros países. E que a Assembléia Legislativa carioca faça o mesmo. Assim impor-se-ia uma pequena derrota aos empresários e políticos envolvidos com o CTR, que só ganham, só se dão bem, enquanto Seropédica vira a Lixolândia.
É uma esperança, muito embora tenha-se dúvidas sobre a vontade e envergadura moral de políticos cariocas para dizer não aos interesses da empresa Julio Simões, dona do CTR, e responsável pela terceirização da frota da Conlurb e da Polícia Militar. Em Minas Gerais só dá essa empresa nas terceirizações! Péssimo marcador. E há quem acredite que Aécio Neves e Sergio Cabral representem modernização da Administração Pública. No caso de Seropédica, a proximidade entre os interesses de Sergio Cabral, Eduardo Paes e da empresa Julio Simoes, sob as luzes da modernização da administração pública, nos leva a receber goela abaixo um problema ambiental cercado, privatizado e pelo qual todos pagarão. Só que os problemas ficarão aqui: o aterro é para sempre; poluição; desvalorização imobiliária; milhares de miseráveis que girarão em torno do lixo e toda desorganização bem peculiar a esta atividade econômica. Mas a empresa continuará ajudando estes bons homens em suas campanhas políticas.
As mulheres estão no poder no CTR. Em matéria certamente paga, do dia 3 de Setembro de 2010, em HTTP://oglobo.globo.com, são apresentadas as mulheres que comandarão o CTR da Lixolândia. A matéria não cansa de elogiar as características das moças que tocarão o fruto da modernização da administração pública, a tecnologia aplicada e outras coisas inúteis. O importante é que elas vão morar mesmo na Zona Sul do Rio de Janeiro, não ficarão por aqui, não terão qualquer envolvimento com o futuro da Lixolândia, se é bem ou mal administrada, se tem problema de transporte, saúde, educação, ambiental ou se é governada ou não por prefeitos oportunistas e que se colocam sempre abaixo na escala moral. Com esse lixo elas não vão lidar, pelo menos até a próxima eleição, quando os políticos forem procurar os agrados da empresa Júlio Simões. O que se pode esperar dessas moças bem sucedidas e felizes? Essa empresa tem projeto de responsabilidade Sócio-ambiental? Ao dizer sim a esse monstro, a Lixolândia vai ter sua história positivamente transformada? Qualquer compensação dada levaria a mudanças significativas? Baseado no que conhecemos da administração pública local, é provável que a Lixolândia continue sendo o vilarejo que cresce a beira da estrada.
      

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cidade da Itália não quer virar Lixolândia

Embora haja detalhes para diferenciar as situações, a Itália apresenta um município em pleno conflito para não virar a Lixolândia de lá, recebendo o que pode ser o maior aterro sanitário da Europa. Um dos detalhes: há suspeitas de que os conflitos sejam provocados pela máfia local, que tem interesses econômicos relacionados à coleta de lixo. Tirando esse detalhe, vê-se uma mórbida semelhança entre Terzigno e Seropédica, as duas Lixolândias.
A mídia mostra que o caos está instalado na Itália desde 2008, e que o problema do lixo vem se arrastando há 15 anos. Tem lixo que vai para a Alemanha de navio! Ainda assim, vale à pena comentar, por a frente essa questão, pois ela mostra bem o padrão de relações estabelecidas em torno do lixo: interesses econômicos em torno do lixo misturam-se aos interesses políticos, e tudo isso acontece de maneira bem obscura, oportunista e imoral, logicamente. Lá os ânimos estão alterados.
A população de Terzigno, município da região de Nápoles, está em confronto com as forças de ordem, em protestos contra um novo aterro sanitário. Caminhões são queimados, lojas depredadas, um caos total. As razões e interesses envolvidos ainda não estão bem esclarecidos, mas a instalação do que pode ser o maior aterro da Europa enfrenta forte oposição, num episódio que envolve até os membros do governo italiano.
Para reforçar, embora famosa, Nápoles é uma cidade rica,  reconhecida pelas pizzas, mas fica numa das regiões mais pobres e violentas da Itália. Parece ser difícil que lá acabe em pizza esses conflitos, como está acontecendo aqui em Seropédica. Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, terá pela frente os interesses da Camorra, poderosa máfia napolitana, donas de lixões. A diferença é que aqui a pizza vai ser comida nas cidades do Rio e de São Paulo, cidade sede da empresa líder do CTO, e os dejetos, evidentemente, vem para Seropédica.
Além do emaranhado de suspeitos e estranhos interesses por trás do lixo, convém que também prestemos atenção no que o governo italiano quer fazer para compensar o grande aterro: “criação de um fundo de 14 milhões de euros (R$ 33 milhões) para obras de compensação ambiental na região. O plano é de recuperações, instalações hídricas e de esgoto, além de renovação urbana”.
Por que fundo de compensação? Porque ter um aterro sanitário é uma roubada, da qual a cidade do Rio de Janeiro quer se livrar, e que estão querendo impor para Seropédica. Não temos que ser a lixeira da cidade maravilhosa. Eles ficam na boa, consomem, fazem a festa. Aqui ficarão o mal cheiro, os urubus, o risco de acidente ambiental, a desvalorização imobiliária, o transito caótico das centenas de caminhões, a desordem urbana que cerca os aterros e o emprego desqualificado.
Também importante: a região italiana é tida como a mais pobre, e por essa razão foi escolhida para receber o aterro. Seropédica está perto do Porto de Sepetiba. Duas lixolândias, alguns traços de mórbida semelhança.

www.spiegel.de/international/europe/0,1518,681469,00.html

domingo, 24 de outubro de 2010

A Lixolândia vai repetir o Km 32

Não só dos problemas de ser a Lixolândia viverão os moradores de Seropédica. Crescer a beira da rodovia Rio-São Paulo, outro grande transtorno para os moradores, diariamente expostos aos riscos de transitar a beira da rodovia, vai piorar.

Trata-se de outro presente de grego que o ex-prefeito e a câmara de vereadores dão para Seropédica: será assentado na altura do km 53, a beira da rodovia, um conjunto de casas populares. Não pelas casas ou pelas pessoas que viverão lá, mas pelo local onde elas ficarão. Conhecendo bem a competência da prefeitura, pode-se prever o que vai acontecer ali em pouco tempo: moradores precisarão pegar ônibus na beira da estrada e quem tem carro precisará entrar e sair: terão que enfrentar os riscos de cruzar a rodovia; logo aparecerão lojas e outros negócios a beira da rodovia, fazendo com que moradores tenham que cruzar a estrada; as construções não seguirão qualquer padrão funcional ou estético; caminhões e carros vão parar em qualquer lugar; os moradores vão aumentar suas casas sem qualquer planejamento etc.

O resultado disso tudo é vivido todos os dias por quem passa pelo Km 32: transtorno; desordem; poluição ambiental, visual e sonora; incidentes, acidentes e aumento da percepção de insegurança, viagem mais demorada. Todos eles marcadores expressivos de baixa qualidade de vida. Quem passa pelo Km 32, além de apreensão, carrega uma velada sensação de que o que é ruim pode piorar, pois ano após ano a situação se agrava. A tendencia é que o km 53 repita o km 32. Para onde irá o esgoto daquele novo bairro? (Alias, para onde vai o esgoto da Lixolândia?). Onde ficam o colégio e o posto de saúde que atenderão os novos moradores? Onde está o planejamento? Seropédica não merecia mais esse presente de grego nem os moradores que lá irão habitar. Mas o que é ruim pode piorar.

Os moradores de Seropédica já conhecem bem tais problemas. São dependentes dos serviços e atrações de Nova Iguaçú, Paracambi, Campo Grande, Itaguaí, Barra da Tijuca e centro do Rio de Janeiro, e o tempo de viagem até esses lugares é cada vez maior.  Quem vai de carro sofre menos do que aqueles que pegam o ônibus. A viagem para Campo Grande, insegura e desconfortável, deixa o morador de Seropédica exausto antes de chegar ao trabalho, lazer, escola ou médico. É um massacre. Quem vai para Paracambi já sofre com o pedágio, agora vai sofrer com os mesmos problemas de quem vai para Campo Grande.

Está na hora de aprender: Seropédica tem que parar de crescer a beira da rodovia. Esta tem que servir para alçarmos outras cidades, não como via de ligação entre bairros. Não tem que ter bancos, fórum, hospital e comércio a beira da rodovia. Os km 54 e 49 já deviam estar ligados por uma via planejada, ampla e segura, perto da qual poderia ter sido colocado esse novo conjunto habitacional. Essa via, bem menos movimentada, ofereceria mais segurança para moradores e transeuntes. Os demais moradores desses bairros certamente estariam mais orgulhosos da sua cidade e experimentando uma real sensação de viver numa cidade de verdade.

Se nada for feito, só o lixo da cidade do Rio de Janeiro terá motivos para sorrir e se orgulhar de viver na Lixolândia. Importante: para o lixo, tem planejamento. E para nós? 


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Entre o sonho e a realidade.

“Viver Seropédica” torna-se, ano após ano, algo muito difícil. Algo bem distante dos sonhos e ideais que nos embalaram anos atrás para buscar uma emancipação e ver confirmado o seu potencial para o desenvolvimento. É fato: muito do que sonhávamos que seria bom para nós se nos emancipássemos de Itaguaí não suportou o encontro com a realidade. Algumas questões viraram pesadelo.

Vejamos dois exemplos: desenvolvimento e configuração de uma cidade. Acreditávamos que, uma vez emancipados, a realidade social e econômica melhoraria, isto é, veríamos novos negócios (indústrias e serviços) aparecendo e, automaticamente, o padrão de renda da população melhoraria. Fato objetivo: não conseguimos vencer o estigma de cidadezinha que cresce a beira da estrada. Tudo ainda acontece à beira da Rodovia Rio-São Paulo: Banco, Fórum, Hospital, Subprefeitura etc. Economicamente falando, seremos conhecidos por mandar areia e por receber o lixo dos outros.

E o desenvolvimento da promissora cidade, cortada por rodovias e ferrovia? Cidade que tem uma grande universidade federal. O desenvolvimento ainda não veio e corre o risco de não vir. Ter índices logísticos bons não significa que o crescimento ocorrerá. Pois entre o sonho e a realidade deveria residir a vontade política, competência técnica e boa fé (envergadura moral) de quem nos governam e legislam.

No caso de Seropédica, os três itens anteriores apresentam resultado sofrível, lastimável. Sugere isso a obscura implantação do aterro sanitário (CTR). Para estar aqui tal aterro contou com a contribuição do poder público, precisou de aquiescência e assinaturas de alguns vereadores, secretários municipais e do prefeito, algo que ocorreu a revelia do interesse da população e sob condições que não são divulgadas com transparência.

Chega a ser irônico ver o que o potencial logístico (ter muitas estradas) materializa para nós: somos uma cidade que envia areia para todo o Rio de Janeiro e que logo receberá o lixo de grandes cidades ao redor.

A areia de Seropédica alimenta uma cadeia produtiva que vai agregar valor econômico para outros. Item barato (não renovável), sem muito valor agregado, a areia ajuda a transformar o panorama de outras cidades, que ficam com a riqueza construída. Por exemplo, a Barra da Tijuca, onde o metro quadrado é um dos mais caros do Rio de Janeiro. Nós ficamos com os buracos dos areais. Seropédica receberá o lixo dos outros, o subproduto indesejável do consumo das outras cidades. É fácil ver o problema: qual o índice de conhecimento, emprego e riqueza que essas atividades econômicas (lixo e areia) geram para nós? O que sobrará para Seropédica?

Uma vez que o poder público faz a estranha opção por deixar um aterro sanitário desse porte vir para cá, ao invés de lutar por algo melhor, convém lembrar da contribuição de Zeca Pagodinho para pensarmos bem sobre o que reside entre o sonho e a realidade para Seropédica. (escrito em Fevereiro de 2010)

“Fui no pagode
Acabou a comida
Acabou a bebida
Acabou a canja
Sobrou pra mim
O bagaço da laranja
Sobrou pra mim
O bagaço da laranja”

Bagaço da Laranja/ Composição: Arlindo Cruz/ Zeca Pagodinho

terça-feira, 19 de outubro de 2010

De Seropédica a Lixolândia

Com apenas uma canetada, o ex-prefeito Darci dos Anjos deu início ao processo de transformação de Seropédica em Lixolândia. Assinar o alvará que libera o funcionamento do novo Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), que abrigará  principalmente o lixo da Cidade do Rio, faz com que Seropédica passe a ser mais conhecida por ter este empreendimento que ninguem mais quis. Seropédica será a cidade do lixo feliz, pois ninguem queria receber esse presente de grego. Assim, Seropédica vira a "Lixolândia, lugar de lixo feliz!"

Para não perder a oportunidade histórica, o Diário da Lixolândia atuará como testemunha desse significativo processo de transformação do destino de uma cidade. Traremos material relevante da dinâmica desse  verdadeiro espetáculo, fruto de um muito esquisito caso de altruísmo. Isso porque é bem conhecido o fato de que  o que é bom, uma vez disponível , nunca chega a Seropédica, pois outros municípios saem na frente e gritam: "tá na mão!".

Está no site www.uol.com, dicionário:
altruísmo
      sm (fr altruisme) Amor ao próximo; abnegação, filantropia. Antôn: egoísmo.
 O Diário da Lixolândia acompanhará esse nobre ato de altruímo da cidade de Seropédica, esta oportuna dedicação desinteressada de Seropédica pelo lixo da Cidade do Rio de Janeiro.

24/08/2010


Outra canetada. Pena que não é a derradeira.

O prefeito Martinazzo deu a canetada suspendendo as obras do CTR. Suspendendo, mas não impedindo, barrrando, dando fim a conversa. Sob os argumentos de que detalhes ambientais precisavam ser equacionados, ele justificou que o projeto deveria ser revisto. Sabe-se que ele estava pressionado pela paixão dos moradores, muitos dos quais aderiram fielmente a sua candidatura a prefeito de Seropédica e que acompanharam com muito interesse e paixão a luta que transcorreu no âmbito jurídico. Aliás, demorou a se manifestar o prefeito.

Infelizmente ele não tocou no aspecto moral. O que é uma pena, pois Martinazzo tem um passado a defender, coisa que o ex-prefeito nunca fez questão de demostrar. Martinazzo foi aluno de graduação e pós-graduação em uma área fundamental para a preservação do meio-ambiente: agricultura. Ele teve informação técnica suficiente para ter uma posição mais firme com relação ao risco de se degradar um aquífero. Mais do que isso: quando apareceu para o cenário social e político de Itaguaí, ele era o político de Seropédica, então segundo distrito, que defendia uma mudança na maneria de se fazer política na cidade. Ele questionava abertamente os aspectos morais da política na cidade; falava dos aspectos técnicos que impediam a cidade de crescer; consquistou seu espaço junto aqueles que se rebelavam contra a situação, aproveitou-se de um sentimento de oposição e ajudou a alimentá-lo. No fim dos anos 80, Martinazzo foi a cara da oposição, juntamente com o ex-vereador Dalto Apolinário.

Martinazzo tem o que defender, e não são interesses de agora, pontuais. Se quer marcar seu nome na história, basta ele preservar a própria história. Ele tem condições para dar um novo rumo a essa sinistra implantação do CTR em Seropédica, e sem temer a insatisfação dos governos do Estado e da cidade do Rio de Janeiro. Alguns falam que podemos ser retaliados. Retaliados, como assim? Em que ano estamos? Estamos na idade média? Não, estamos em um outro tempo, este que conta com o suporte da tecnologia, como essa aqui utilizada. Há meios para tornar público qualquer atitude perversa feita por um governante. Há mais transparência.

O mais importante é que não podemos acreditar que há o que Sergio Cabral e Eduardo Paes, atuais ocupantes dos cargos citados, possam oferecer a Seropédica para compensar os custos de se ter aqui o CTR, sem que antes tentássemos outra maneira de crescer e nos desenvolver econômicamente. Perdemos 14 anos com governos mal sucedidos em Seropédica. Podemos ficar mais alguns pensando num projeto consistente para o desenvolvimento de Seropédica.

Martinazzo pode ir alem do aspecto ambiental que justifica a canetada pontual dele. Ele pode fazer o que o ex-prefeito não fez: pode fazer um plebiscito. Ele pode convocar a sociedade seropedicense para discutir e dizer se quer ou não o CTR; pode chamar os profissionais da UFRuralRJ para discutir novos rumos para Seropédica. Martinazzo pode, e as pessoas acreditam que sim. Ele pode mudar a história de Seropédica, impedir que ela seja a lixolândia, lugar de lixo feliz.

Martinazzo, faça de Seropédica uma cidade de gente feliz.

Entre a paixão e o aquífero, a moral.

Entre os argumentos mais comuns para barrar a implantação do CTR em Seropédica temos a paixão de moradores e os problemas ambientais relativos ao aquífero. Não menos importante é a questão moral que o processo de implantação enseja.

A paixão dos moradores está relacionada ao fato de que eles querem outro tipo de crescimento econômico para Seropédica. Quando buscou-se a emancipação, era por atividades econômicas mais nobres que se sonhava. Muitos viam um município economicamente forte porque estaria baseado em empresas que receberiam transferência de conhecimento por parte da UFRuralRJ. A presença da universidade sempre sucitou isso. E este ainda é o melhor caminho para pensar a inserção de Seropédica no cenário regional e nacional.

A questão do aquífero está mais do que explicada. O risco de poluir essa importante fonte de recurso hídríco, por menor que seja, não deveria ser corrido sob qualquer justificativa. Era importante ter algo mais nobre que um aterro sanitário para correr tal risco. Boa parte do mundo sofre porque não tem água, e quem tem aquífero, por mais custoso que seja manuseá-lo, protege como se fosse ouro; é estratégico. Contudo, o governo do Estado do Rio de Janeiro defeca e deambula para essa questão estratégica. Sim, já que falamos de lixo, dejeto, ele defeca e deambula; e aceita os argumentos técnicos dos grupos econômicos que tem interesse no CTR. Outros argumentos não são considerados.

Mas entre a paixão e a técnica, assenta-se também a questão moral. Ela é fundamental para que o CTR não venha para cá. O processo de implantação do CTR em Seropédica está permeado de aspectos que depõem contra a decência e contra o bom senso. Primeiro, tudo aconteceu as escuras, sem que a população fosse corretamente envolvida com a vontade de um grupo econômico de aqui instalar o CTR. Culpa do então prefeito Darci dos Anjos e de alguns vereadores que mostraram-se a favor da causa. O prefeito poderia ter requisitado auxílio técnico a UFRuralRJ ou ao CREA para avaliar o pedido; poderia ter debatido abertamente na câmara, associações de moradores e de classes. Quando criou-se a famosa audiência pública no clube Seropédica, estava tudo armado. Foi tudo feito as escuras, prática moralmente indefensável.

Trazer lixo do centro para a periferia é uma prática perversa. Logo é imoral. Aceitar o CTR em Seropédica significa dizer sim a velha e perversa visão de relações entre Centro e Periferia. No centro ficam as coisas boas, na periferia as mazelas. Está na hora da cidade do Rio de Janeiro assumir os custos e desafios de cuidar do próprio lixo. Quem quer fazer apologias a "cultura do Mega", isto é, megacidades, megaeventos, etc, que dê conta do megadesafio de gerenciar os prós e contras dessa cultura. Desenvolver atividades para tratar de lixo implica em custos ambientais, econômicos e sociais que devem ser incorridos e debatidos no seio da sociedade que produz esse lixo. A cidade do Rio de Janeiro fica com a beleza do consumo, Seropédica fica com a feiura do lixo. É imoral.

Seropédica tem muitos problemas, inclusive o de ter partes da cidade que são tratadas como centros e outras que são tratadas como periferias. Temos que cuidar dos nossos problemas, não dos megaproblemas dos outros que querem continuar a desfrutar dos seus megainteresses. Temos que debater os nossos desafios, buscar soluções tecnicamente e moralmente defensáveis. Estamos na periferia, mas não devemos aceitar facilmente essa condição.