Nunca ansiamos tanto pela presença de uma unidade do corpo de bombeiros aqui na cidade como nos dias de hoje. Estávamos acostumados com a presença dele ali em Paracambi, com a sensação de que estava perto.
Atualmente, toda vez que ouvimos o som das sirenes do corpo de bombeiro vindo lá da direção da estrada, experimentamos uma angústia danada. Pode ser fogo em alguma mata, mas logo pensamos em acidentes, e damos continuidade à angústia até ficar sabendo onde foi e o que de fato aconteceu. A distância de Paracambi agora parece ser muito maior.
E tem sido quase que diária a situação da sirenes, demonstrando outra faceta dessa nossa condição de reféns de uma cidade que cresceu e cresce desordenadamente à beira de uma rodovia federal.
Somos reféns por depender da concentração de todas as facilidades (banco, comércio etc) à beira da estrada e do abandono dos bairros e da ausência de um sistema de transporte interno que nos pegue perto de casa e nos deixe num ponto seguro de alta capacidade para podermos realizar as atividades centrais das nossas vidas. E os bairros crescem cada vez mais para dentro, com casas cada dia mais distantes da beira da estrada; viramos dependentes do prestativo, porém inseguro transporte de moto. Agora somos reféns dessa sirene, mostrando o quanto continuamos presos ao que ocorre à beira da estrada.
O atual status do nosso cárcere tem muito a ver com os problemas históricos: fazemos uso de uma rodovia para deslocamentos usuais, quando normalmente estamos menos concentrados e, portanto, sujeitos a incidentes. Por outro lado, como transeuntes, experimentamos cada vez mais a péssima situação de stress ao ter que cruzar a pista, dado que não fazemos uso das passarelas. Continuamos trocando, em proporção cada vez mais desigual, o sacrifício da segurança de passar pela passarela pelo stress de experimentar um risco de morte cada vez maior. Estranhas escolhas que perpetuamos nessa cidade.
Mas nosso cárcere tem situações bastante peculiares. Ficamos revoltados com a altura do asfalto em relação às entradas e saída da cidade após a obra, mas achamos normal uma coisa chamada "Empreendimento" ter um ponto de ônibus inútil e o condomínio minha casa e minha vida, a 200 metros depois, não ter ponto algum, deixando as pessoas expostas ao pior risco possível. A faixa de pedestre ali serve para marcar o local exato onde as pessoas serão atropeladas. Sim, quem liberou aquele condomínio ali agiu dolosamente e por isso deveria ser punido.
Também não falamos nada da faixa de passageiro ficar entre os pontos de ônibus na rua 4, coisa que complica ainda mais quando dois ônibus param de cada lado e ninguém passa. Ainda achamos normal uma feira aos domingos à beira de uma rodovia, como se ainda fôssemos aquele distrito de poucos mil habitantes e que tinha na feira produtos agropecuários da região; é um transtorno para todos e deveríamos ter feiras dentro dos bairros e com atrações culturais.
Por fim, achamos normal uma Casa de Cultura, por mais bela que seja, por mais nobre que seja o intento, ser posta à beira de uma rodovia e sem qualquer preocupação com quem chega de transporte público, mas bem conveniente para quem tem carro; enfim, não deveria estar ali, pois precisamos sair dessa incômoda beira de estrada-dependência para nos apropriarmos segura e democraticamente do espaço público.
Que venha logo o corpo de bombeiro, pois o trânsito só aumenta.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
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