A falta de postagens mais atualizadas no Diário da Lixolândia tinha uma razão: observar a transição dos poderes legislativo e executivo e as novidades que emergiriam.
Novos Governadores, Deputados e Senadores tomaram posse. Novos nomes foram colocados nas Secretarias e Ministérios que compõem a Administração Pública nas diversas instâncias de governo. Uma nova presidência da Câmara Municipal foi eleita, alçando ao poder o vereador Dedé Bananeiro. Havia grande expectativa com relação as decisões relativas ao meio-ambiente, tema que dominou o cenário da eleição presidencial em 2010, e que alçou Marina Silva a condição de celebridade mundial. Neste sentido, havia expectativa sobre o que o novo secretário estadual de Meio-ambiente, Carlos Minc, faria com relação a instalação do Aterro Sanitário (CTR), em Seropédica. Havia, logicamente, expectativa com relação ao que o governo municipal traria de novo para essa cidade.
Há uma grande expectativa, mas até agora nada de novidades positivas. Em verdade, as novidades são extremamente negativas, pois dizem respeito a tragédias que tomam a proporção que vemos por causa do histórico descaso dos políticos brasileiros com: planejamento e administração de longo prazo; políticas apropriadas de transporte e uso do solo; alertas de profissionais e de instituições de pesquisa; e escolha de pessoas realmente capacitadas para assumir as secretarias responsáveis pelas decisões que garantem vida digna no campo e nas cidades. Além do descaso, tem os ganhos pontuais dos políticos, que, infelizmente, se beneficiam ao liberar loteamentos e construções em áreas não apropriadas, ao colocar nos cargos técnicos pessoas associadas ao financiamento e manutenção de esquemas de campanha. E o que é pior: em situações extremas, como as tragédias naturais, eles podem usar o dinheiro público sem fazer licitação. A próxima eleição é o horizonte máximo de tempo que alcança a visão de um político responsável pelas decisões que vão afetar de maneira drástica as nossas vidas.
Infelizmente, é o mesmo descaso que observamos no processo de implantação do CTR em Seropédica. Profissionais da UFRRJ, EMBRAPA e CREA já alertaram sobre as questões do aqüífero, a contaminação do solo, as inconsistências da tecnologia que será usada pela Ciclus S/A e do EIA/RIMA sancionado pelo INEA. Viu-se que Seropédica, a Lixolândia, não tem qualquer plano estratégico de uso do seu solo, pois cedeu para a instalação de um aterro sanitário de proporções gigantescas uma área que poderia ser um grande parque municipal em uma nova reorganização do crescimento da cidade. Viu-se que Prefeitura e Câmara foram irresponsáveis ao liberar o alvará de instalação e funcionamento do CTR. Sabe-se que a escolha dos secretários municipais de governo atende a critérios toscos como laços familiares, amizade de longa data e acordos políticos. Sabe-se que a empresa responsável pelo CTR é a mesma que cuida do transporte de lixo na cidade do Rio de Janeiro e da terceirização da frota de órgãos estaduais. Sabe-se que essas empresas tem liberdade para contribuir economicamente nas campanhas políticas. Sabe-se que a remoção e acomodação do lixo urbano geram milhões de reais em contratos que não são devidamente analisados e rastreados.
A tragédia ambiental de Seropédica é anunciada, e vai levar tempo para ser notada e lamentada. Ela não terá o impacto de centenas ou milhares de morte imediatas, como vemos atualmente no estado do Rio de Janeiro. A despeito de todos os avisos feitos pelos profissionais da UFRRJ, EMBRAPA e CREA, os governos Estadual e Municipal ainda não fizeram nenhum esforço para olhar em conjunto, e de maneira realmente pública, a questão. Sim, o horizonte de tempo que esta tragédia levará para se anunciar não é o da próxima eleição.
Até agora, ainda que estejamos apenas no dia 14 de Janeiro de 2011, Carlos Minc só se manifestou com contundência sobre a poluição provocada pela siderúrgica CSA, em Santa Cruz. Poluição esta que, por gerar problema agora, de imediato, tem a atenção da mídia. De parte da prefeitura de Seropédica, até agora, nenhuma novidade.
Lementavelmente ficamos preso a um ciclo vicioso e perigoso: "aonde estão problemas que dão audiência imediata está a mídia. Lá também estarão os políticos". Sim, políticos, aqueles que podem faturar ao tomar decisões que vão afetar de maneira drástica as nossas vidas.