Na audiência pública na Câmara de Vereadores de Seropédica de 8 de dezembro de 2010, um dos pontos de maior destaque foi o contato que a sociedade seropedicense teve com o potencial da UFRuralRJ para ajudar a enfrentar os problemas que a afligem e para viabilizar transformações estruturadas da sua realidade. Na ocasião, em função da dinâmica das apresentações, emergiu uma questão: por que a UFRuralRJ ainda não entrou na Justiça Federal com uma ação de vizinhança contra o CTR?
Quem esteve na audiência viu o que alguns professores tinham a dizer sobre a polêmica implantação do CTR. Falou-se sobre os riscos da implantação e sobre soluções para o problema. É a UFRuralRJ que queremos: interagindo com Seropédica, transferindo conhecimento e tecnologia, viabilizando desenvolvimento econômico e social.
Desde o início das manifestações contrárias a implantação do CTR em Seropédica, alguns professores mostram os impactos ambientais e sociais relativos a esse empreendimento, ilustrando as falhas no processo de licenciamento. No dia 8, além de termos esses professores reafirmando suas posições, foram apresentadas propostas alternativas ao CTR. Propostas estas baseadas no entendimento de que soluções macro de grandes instalações, como um CTR, não são viáveis para quaisquer tipos de tratamento de resíduos, e que as mais recomendáveis seriam as soluções micro, como os “ecopolos”, que atendem de modo celular o tratamento de resíduos sólidos. Estes “ecopolos” possibilitam resultados que levam a redução de, aproximadamente, 95% dos resíduos coletados. O resíduo final poderá ser destinado a aterros sanitários ou finalizado pela construção civil, sendo transformados em materiais cimentíceos, cerâmicos e outros.
Essa apresentação resultou de encontros promovidos pela UFRuralRJ e Secretaria de Meio-ambiente de Seropédica com empresas que tivessem interesse em apresentar alternativas para o tratamento dos resíduos. Cinco empresas foram chamadas, mas só duas apareceram. Elas apresentaram soluções que dizem respeito a geração de energia (via incineração de resíduos), geração de material para uso em pavimentação e geração de material para uso cimentício.
Todas as soluções apresentadas visam a eliminação de aterros sanitários, e são condizentes com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (“PNRS”), lei 12.305 de 02 de agosto de 2010. Vale destacar que as áreas ocupadas pelos empreendimentos sugeridos são da ordem de 10% da área ocupada por um Aterro Sanitário! Existindo, ainda, a possibilidade de instalação de um pólo de reciclagem de resíduos sólidos (RS), onde microempresas e Institutos de Pesquisa possam realizar e/ou desenvolver práticas de reuso, reciclagem e beneficiamento, valorizando os resíduos sólidos.
A UFRuralRJ que não entendemos é esta mencionada várias vezes aqui no Diário da Lixolândia: a que sempre chega atrasada aos eventos mais marcantes dessa região. Desta vez, ela também chama atenção por ainda não ter acionado a Justiça Federal contra a implantação do CTR. É estranho não ter um movimento mais contundente da UFRuralRJ contra o CTR. Destacam-se duas razões. Primeiro, os elementos levantados pelos professores envolvidos no movimento contrário ao CTR, frutos da aplicação de seus recursos de pesquisa, considerações do mais alto nível, ainda permanecem sem receber o devido “abraço institucional” da Instituição que a estes profissionais abriga. Segundo, em um tempo onde se sabe que transformações estruturadas de um território ou região dependem da aplicação de conhecimento e tecnologia, acolher um CTR, tendo a UFRuralRJ por perto, é um desmerecimento a eminência dessa Instituição.
De acordo com um experiente ativista contra implantação de CTRs, Leonardo Aguiar Morelli, presente na audiência, acionar a Justiça Federal gera mais resultado do que ficar acionando a instância jurídica estadual. É um conselho oriundo da experiência de uma pessoa em uma luta pesada contra o contexto obscuro que se tornou a coleta e descarte de lixo no Brasil. Como se trata de um órgão federal, a UFRuralRJ tem essa prerrogativa, pode acionar a Justiça Federal, o que daria ao movimento contra o CTR uma nova dinâmica. Ao mesmo tempo, daria um novo alento a todos aqueles que querem uma Seropédica reconhecida por outras razões que não a de possuir um dos maiores aterros sanitários do Brasil.
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