No vácuo da ausência do DNIT, e mesmo da ausência da UFRRJ e da Prefeitura de Seropédica, a empresa Real Rio realizou hoje pela manhã um breve ato sobre segurança e respeito no trânsito. Hoje é o dia nacional do trânsito.
Em frente a entrada principal da UFRRJ, a empresa colocou pessoas segurando cartazes com muitos dizeres, mas especialmente sobre o respeito àquelas pessoas que passam na faixa de pedestre entre os pontos de ônibus. Foram breves os momentos que ali ficaram. Chamam isso de responsabilidade social.
Numa cidade que mais parece uma vila à beira de uma rodovia - como se só houvesse vida ali -, alguns minutos de manifestação sobre trânsito, feitos por uma operadora de transporte público, não devem ser considerados como alento ou uma luz no fim do túnel. É uma lástima, apesar da ação da empresa. A UFRRJ e a Prefeitura são muito tímidas nessas ações e geralmente escoram-se na fala de que "eles não tem ingerência sobre a Rodovia".
A UFRRJ está inserida nessa cidade e repete as suas práticas: ver sua comunidade à deriva nos pontos de ônibus à beira da rodovia. Sem sistema interno de transporte pensado para prover deslocamento seguro, eficiente, confiável e pontual, as pessoas, tanto em Seropédica como na UFRRJ, vão para os pontos pegar ônibus e enfrentar minutos que podem ser angustiantes porque não há conforto, proteção contra sol ou chuva ou iluminação satisfatória.
Portanto, responsabilidade social passa a significar, em muitos contextos, o mesmo que agir oportunamente ou "cosméticamente" no vácuo histórico de atores que deveriam estar capacitados para isso ou deixar de serem indiferentes a isso. Mas até onde vai o interesse ou benevolência desse ator que age oportunamente?
UFRRJ: TRANSPORTE TEM QUE SER ASSUNTO ESTRATÉGICO
Não bastassem os itens anteriores, temos a proliferação de pontos pequenos na frente da área da UFRRJ. Temos os históricos pontos da Floresta, da Veterinária e do Dutra, este último bem carregado. Se for aberto o ponto do CAIC (ou que leva ao PAT), aumenta o impacto da UFRRJ sobre o sistema de ônibus, pois é uma parada a mais para os ônibus que vão e que chegam, aumentando o tempo de viagem. Isso precisa mudar, pois quem mora depois da UFRRJ, sentido Santa-Sofia, sofre o impacto na ida e na volta (desnecessário lembrar os históricos problemas com o "entrar, na UFRRJ, do Real Rio").
Ponto inquestionável: os pontos atuais são inseguros, sem conforto e expõem demais as pessoas, por mais que sejam práticos e rápidos. Esta na hora de começar a pensar que o tempo que se ganha desse jeito é o mesmo que aproxima as pessoas de altos riscos de incidentes. A troca não vale a pena, mas continuamos a fazê-la, achando que passamos imunes e impunes pela vida. Sobre trocas onerosas, é visível que em dias de sol, os usuários dos moto-taxi aqui na UFRRJ trocam a segurança do capacete pela insegurança da beleza à vista.
A mudança pode ser baseada, por exemplo, num transporte interno que permita à comunidade deslocar-se de maneira rápida, frequente, segura e confiável até um ponto seguro, com conforto e de alta capacidade, em frente ao portão central. Com o tempo, as operadoras de transporte seriam forçadas a aperfeiçoar a sua operação também. Ganhariam todos: operadora de transporte, UFRRJ e moradores de Seropédica.
Aliás, toda ação de transporte e/ou uso do solo que tire esse estigma de vila à beira da rodovia é muito bem vindo, pois muda radicalmente a maneira como as pessoas se apropriam do espaço em que residem.
Pensem nos milhares moradores de Seropédica que todos os dias deslocam-se desoladamente, à pé ou em suas bicicletas, de seus bairros para os pontos de ônibus e lá continuam a jornada de padecimento. Não há como negar que chegar ou sair de Seropédica de ônibus é uma jornada diária de padecimento.
A UFRRJ precisa ter em sua pauta de ações estratégicas e de planejamento o fato dela ser um grande Polo de Atração/Geração de Viagens. Ela impacta a região e a si mesma, pois quanto mais cresce o número de viagens/deslocamentos, maiores são os problemas de segurança, poluição, gasto com piso e sinalização, dado que ela, ao não ter qualquer política de transporte, deixa o vácuo para que mobilidade seja entendida como ter carro.
O tempo passou: a UFRRJ não é mais aquela paisagem idílica de outrora, quando a comunidade poderia deambular e pedalar tranquilamente para realizar suas atividades diárias entre as 8 e às 17. Sim, é complexo, implica em custos e mudanças de hábitos e de mentalidade. Geralmente não são coisas muito fáceis de se lidar. Se fizer isso, estará fazendo o que lhe cabe por ser, também, uma cidade, e não precisaremos mais de exemplos esporádicos de responsabilidade social. Precisamos de mobilidade segura, sustentável, humanizada e eficiente.
Marco Souza
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