terça-feira, 2 de outubro de 2012

Chorume: fatos e representações

Chorume é o líquido resultante do processo de putrefação ou apodrecimento de matérias orgânicas. É muito encontrado em lixões e aterros sanitários; possui um cheiro muito forte e desagradável ─ odor de coisa podre[i]. Se não for tratado, o chorume atinge lençóis freáticos, rios e córregos, contaminando-os. A água contamina o peixe que comemos e a água usada para irrigar outros alimentos que nos sustentam.

Chorume é fato: polui e degrada Seropédica; está objetivado na matéria[ii] que denuncia que o CTR Santa Rosa ─ a falaciosa moderna proposta de tratamento de lixo do Rio de Janeiro ─, não trata o chorume, nem cumpre o que foi prometido. Chorume é representação: vá até o CTR Santa Rosa e veja no que se transformou aquela linda paisagem; e que poderia ser nossa, ter vários e diferentes usos, nos oferecer diversos benefícios, simbolizar muitas outras coisas nobres para nós e à sociedade brasileira, que não simplesmente sermos Seropédica: a lixeira do Rio de Janeiro. A paisagem está poluída. Vá um dia até lá  e pense em tudo de bom que você poderia propor e fazer naquele espaço para transformar positivamente a vida de todos!

Lixo, ou resíduo, é qualquer material sem utilidade para quem o detém[iii], e é jogado fora, descartado. Nos dicionários de língua portuguesa lixo pode ser “coisas inúteis, imprestáveis, velhas, sem valor; aquilo que se varre para tornar limpa uma casa ou uma cidade; entulho; qualquer material produzido pelo homem que perde a utilidade e é descartado”[iv].

Chorume também ganha excelente representação ao apreciarmos a política Seropedicense: infelizmente  esta ganha, cada vez mais, a perfeita representação de um depósito de matéria sem utilidade, descartável. E do lixo, como sabemos, escorre o chorume. Neste caso ele polui um terreno muito valioso: o imaginário do eleitor; os sentimentos, motivações, atitudes e comportamentos dos cidadãos.

O lixo político seropedicense fica bem observado no período político, nas diferentes manifestações dos candidatos a prefeito e vereador, e na maneira como se organizam para alcançar seus objetivos. São ideias e propostas sem qualquer utilidade, altamente descartáveis, uma obra (de horror) em torno do nada, mas que tem a mudança como matéria prima. Pouco se aproveita, de fato. Tudo o que é comunicado e feito, representa esse  chorume altamente tóxico. Matéria que contamina a importância simbólica da mudança, da transformação, da criação de novas realidades positivas para uma sociedade, paisagem ou geografia.

Mudança que, se formos realistas, Seropédica conheceu bem pouco, ou que só conheceu, e de maneira drástica, por ser transformada na lixeira do Rio de Janeiro. Neste sentido, parceria é uma palavra ou conceito utilizado pelos políticos para a edificação da obra em torno do nada, o veículo do discurso vazio, que passa na via pavimentada pelo "asfalto na porta da casa", o ícone do fazer nada ou de dar ao muito pouco feito o status de "progesso". É assim que se apresenta: “Estamos juntos!”, “Vamos que vamos!”, “Estou contigo, irmão!”, “A minha vitória é sua!”, "nossa família estará no seu bairro levando nossa força e amizade". E outros mais que apenas informam a capacidade que temos de pegar palavras bonitas para não dizer absolutamente nada. Chorume.

São entulhos que os políticos sequer param para refletir sobre a razoabilidade do que está sendo dito. É o entulho que vem de dentro da alma vazia de valores e ideais nobres, e que está orientada apenas para as metas de curto prazo de quem quer se locupletar da disponibilidade do dinheiro público e do status que o cargo fornece. Pessoas que definitivamente não estão orientadas para a real transformação da realidade que vivemos, dessa difícil arte de pensar e edificar um projeto de vida e de “viver Seropédica”.

Um político diz que a mudança tem que continuar, que o passado não pode mais voltar. Ora, se algo tivesse realmente mudado ou estivesse em transformação, não haveria risco de uma recorrência, por parte da população, a uma referência do passado e a ele querer voltar ou retornar. Muito pouco mudou: a paisagem continua a mesma ou piorada, como se o tempo não tivesse passado para Seropédica e seus moradores. Sim, essa permanência do mesmo que desanima e amedronta facilita aqueles que recorrem ao que já viveram para definir o que vão fazer. Eles sabem bem o que significa uma cidade que tem na prefeitura o maior empregador. Além disso, asfalto não representa muita coisa, pavimenta apenas o caminho do discurso vazio. Chorume.

O outro político diz que quem não fez perdeu a vez, que forasteiros tem que sair da cidade que, presume-se, foi invadida e agora precisa de um herói, ele mesmo. Impressionante esta descrição da realidade que, de fato, é agônica. O político diz que sabe fazer, mas ele é o que não fez nada, pois esteve oito anos como prefeito da cidade. Ele fundou e cristalizou o mesmo nada que prevalece até hoje, intocável pela atual gestão: a cidade que é a imagem de bairros que ocupam de maneira desordenada a beira de uma rodovia, de ruas sem passeios, e que tem moto-taxis, trailers e barraquinhas de camelôs como cartão postal; que tem uma educação ruim e uma saúde péssima. Assim segue a escala. Chorume.

Um outro político traz a locução do Governador Sérgio Cabral dizendo que vai realizar grandes parcerias com esse político, se ele ganhar; vão atrair indústrias e gerar empregos, mudar a nossa realidade. Ora, porque o governador ainda não fez isso por Seropédica? Porque é preciso que o político dele ganhe para que surta efeito a “parceria” com ele, o governador? Sim, Sergio Cabral ajudou a mudar um pouco Seropédica, ele está por trás da localização do CTR Santa Rosa em Seropédica, de toda essa maliciosa e perversa manobra que fez com que o prefeito Darci dos Anjos e sete vereadores dissessem sim para o que nenhuma outra cidade queria, pois sabiam perfeitamente que era uma bomba. Pelo que o governador diz,  um prefeito tem autonomia e o poder de escolher o que ele vai fazer. Pergunta-se: porque o atual prefeito não negou o alvará para o CTR? Chorume.

Outro político diz que a esperança vai vencer o medo, importando o jargão do PT na época da primeira eleição do Lula. A população de Seropédica tem medo de quê, se nada mudou? E ela continua fazendo as suas escolhas. Para quem ele está falando? O que a população ganha ou deixa de perder, ou perde ou deixa de ganhar, se votar nesse candidato? Do que ele está falando ao remontar o eleitor à relação entre esperança e medo? Por que aludir ao medo, misturá-lo com a esperança, se nenhuma proposta foi efetivamente construída e apresentada num razoável plano de governo que mostre às pessoas o caminho que leva ao que é diferente do nada? Onde está a linha histórica que demarca, com atos e discussões consistentes, a construção de uma proposta que se opõe ao que se tem? Chorume.

Entre os candidatos a vereadores encontramos outra parte do entulho, a maior parte dele, por sinal: eles falam que vão trazer indústrias, gerar empregos, asfaltar ruas, melhorar a educação e a saúde, disseram até que vão trazer aeroporto para Seropédica. Chorume pesado que escorre de ideias, propostas e valores sem utilidade alguma, e que tem em palavras, e sua valiosa significância, o veículo do nada.

Dizem que “vão fazer por nossos filhos, o que os políticos anteriores não fizeram por eles mesmos”. Falam do que deveriam ter feito os prefeitos que tivemos, sequer tocam naquilo que competia e compete aos vereadores: pensar nas leis, fazer a fiscalização dos atos do executivo e a audição digna e ativa dos anseios da população. Se ainda estamos elaborando e reelaborando o nada, o que fez a maioria dos vereadores que tivemos em Seropédica? Pouca coisa se aproveita. Chorume.

Chorume é fato: todo esse chorume polui o valioso terreno: o imaginário do eleitor e os sentimentos, motivações, atitudes e comportamentos dos cidadãos. Está contaminada a percepção do que seja mudança e a efetiva capacidade de fazê-la real.

[i] Disponível em: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/chorume.htm. Obtido em 20 de setembro de 2012.
[iii] Disponível em: http://www.codeca.com.br/lixo_o_que_e_lixo.php. Obtido em 20 de setembro de 2012.
[iv] Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/o-que-e-lixo/11443/ Obtido em 20 de setembro de 2012.

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