Embora haja detalhes para diferenciar as situações, a Itália apresenta um município em pleno conflito para não virar a Lixolândia de lá, recebendo o que pode ser o maior aterro sanitário da Europa. Um dos detalhes: há suspeitas de que os conflitos sejam provocados pela máfia local, que tem interesses econômicos relacionados à coleta de lixo. Tirando esse detalhe, vê-se uma mórbida semelhança entre Terzigno e Seropédica, as duas Lixolândias.
A mídia mostra que o caos está instalado na Itália desde 2008, e que o problema do lixo vem se arrastando há 15 anos. Tem lixo que vai para a Alemanha de navio! Ainda assim, vale à pena comentar, por a frente essa questão, pois ela mostra bem o padrão de relações estabelecidas em torno do lixo: interesses econômicos em torno do lixo misturam-se aos interesses políticos, e tudo isso acontece de maneira bem obscura, oportunista e imoral, logicamente. Lá os ânimos estão alterados.
A população de Terzigno, município da região de Nápoles, está em confronto com as forças de ordem, em protestos contra um novo aterro sanitário. Caminhões são queimados, lojas depredadas, um caos total. As razões e interesses envolvidos ainda não estão bem esclarecidos, mas a instalação do que pode ser o maior aterro da Europa enfrenta forte oposição, num episódio que envolve até os membros do governo italiano.
Para reforçar, embora famosa, Nápoles é uma cidade rica, reconhecida pelas pizzas, mas fica numa das regiões mais pobres e violentas da Itália. Parece ser difícil que lá acabe em pizza esses conflitos, como está acontecendo aqui em Seropédica. Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, terá pela frente os interesses da Camorra, poderosa máfia napolitana, donas de lixões. A diferença é que aqui a pizza vai ser comida nas cidades do Rio e de São Paulo, cidade sede da empresa líder do CTO, e os dejetos, evidentemente, vem para Seropédica.
Além do emaranhado de suspeitos e estranhos interesses por trás do lixo, convém que também prestemos atenção no que o governo italiano quer fazer para compensar o grande aterro: “criação de um fundo de 14 milhões de euros (R$ 33 milhões) para obras de compensação ambiental na região. O plano é de recuperações, instalações hídricas e de esgoto, além de renovação urbana”.
Por que fundo de compensação? Porque ter um aterro sanitário é uma roubada, da qual a cidade do Rio de Janeiro quer se livrar, e que estão querendo impor para Seropédica. Não temos que ser a lixeira da cidade maravilhosa. Eles ficam na boa, consomem, fazem a festa. Aqui ficarão o mal cheiro, os urubus, o risco de acidente ambiental, a desvalorização imobiliária, o transito caótico das centenas de caminhões, a desordem urbana que cerca os aterros e o emprego desqualificado.
Também importante: a região italiana é tida como a mais pobre, e por essa razão foi escolhida para receber o aterro. Seropédica está perto do Porto de Sepetiba. Duas lixolândias, alguns traços de mórbida semelhança.
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