quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Entre o sonho e a realidade.

“Viver Seropédica” torna-se, ano após ano, algo muito difícil. Algo bem distante dos sonhos e ideais que nos embalaram anos atrás para buscar uma emancipação e ver confirmado o seu potencial para o desenvolvimento. É fato: muito do que sonhávamos que seria bom para nós se nos emancipássemos de Itaguaí não suportou o encontro com a realidade. Algumas questões viraram pesadelo.

Vejamos dois exemplos: desenvolvimento e configuração de uma cidade. Acreditávamos que, uma vez emancipados, a realidade social e econômica melhoraria, isto é, veríamos novos negócios (indústrias e serviços) aparecendo e, automaticamente, o padrão de renda da população melhoraria. Fato objetivo: não conseguimos vencer o estigma de cidadezinha que cresce a beira da estrada. Tudo ainda acontece à beira da Rodovia Rio-São Paulo: Banco, Fórum, Hospital, Subprefeitura etc. Economicamente falando, seremos conhecidos por mandar areia e por receber o lixo dos outros.

E o desenvolvimento da promissora cidade, cortada por rodovias e ferrovia? Cidade que tem uma grande universidade federal. O desenvolvimento ainda não veio e corre o risco de não vir. Ter índices logísticos bons não significa que o crescimento ocorrerá. Pois entre o sonho e a realidade deveria residir a vontade política, competência técnica e boa fé (envergadura moral) de quem nos governam e legislam.

No caso de Seropédica, os três itens anteriores apresentam resultado sofrível, lastimável. Sugere isso a obscura implantação do aterro sanitário (CTR). Para estar aqui tal aterro contou com a contribuição do poder público, precisou de aquiescência e assinaturas de alguns vereadores, secretários municipais e do prefeito, algo que ocorreu a revelia do interesse da população e sob condições que não são divulgadas com transparência.

Chega a ser irônico ver o que o potencial logístico (ter muitas estradas) materializa para nós: somos uma cidade que envia areia para todo o Rio de Janeiro e que logo receberá o lixo de grandes cidades ao redor.

A areia de Seropédica alimenta uma cadeia produtiva que vai agregar valor econômico para outros. Item barato (não renovável), sem muito valor agregado, a areia ajuda a transformar o panorama de outras cidades, que ficam com a riqueza construída. Por exemplo, a Barra da Tijuca, onde o metro quadrado é um dos mais caros do Rio de Janeiro. Nós ficamos com os buracos dos areais. Seropédica receberá o lixo dos outros, o subproduto indesejável do consumo das outras cidades. É fácil ver o problema: qual o índice de conhecimento, emprego e riqueza que essas atividades econômicas (lixo e areia) geram para nós? O que sobrará para Seropédica?

Uma vez que o poder público faz a estranha opção por deixar um aterro sanitário desse porte vir para cá, ao invés de lutar por algo melhor, convém lembrar da contribuição de Zeca Pagodinho para pensarmos bem sobre o que reside entre o sonho e a realidade para Seropédica. (escrito em Fevereiro de 2010)

“Fui no pagode
Acabou a comida
Acabou a bebida
Acabou a canja
Sobrou pra mim
O bagaço da laranja
Sobrou pra mim
O bagaço da laranja”

Bagaço da Laranja/ Composição: Arlindo Cruz/ Zeca Pagodinho

2 comentários:

  1. Diante disso:

    http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1360580-7823-RECOMECAM+AS+OBRAS+PARA+A+CONSTRUCAO+DO+ATERRO+SANITARIO+EM+SEROPEDICA,00.html

    Manifestação Popular já!

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  2. Na última Quarta-feira, o candidato José Serra foi atingido por um objeto não identificado enquanto caminhava no calçadão de Campo Grande. Supõe-se que pode ter sido um pedaço de fezes expelido da cloaca (descobri que aves não possuem cavidade anal) de um "Urubú-Rei", ou melhor, "Urubú-Paes", que sobrevoava a área já na expectativa da instalação do futuro Centro de Tratamento de Resídúos Sólidos da cidade de Seropédica, ou melhor, Lixão.

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